Rancharia – SP. 24 de junho de 1966 -
sexta-feira, Dia de São João, para os católicos, catorze horas. Tenho dezesseis
anos e trabalho numa loja que vende sapatos. É comum ficar a par dos
acontecimentos da cidade, ouvindo os clientes frequentadores da loja, e, alguém
comenta que a professora Neusa comprou um fusca novinho; que não sabe dirigir,
mas está interessada em aprender. Saio da loja, ao final do expediente. Vou
para casa pensando no assunto. Tomo um banho e encontro meus amigos: Áureo e
Arnor. O Áureo tem dezoito anos e já dirige o carro da família. O Arnor tem
catorze. Ele e eu não dirigimos, ainda. Comento com eles, o fato da
professora Neusa e, emendo: - Como pode alguém comprar um carro sem saber
dirigir? O Áureo, imediatamente, tem a brilhante ideia de colocar-se à
disposição da professora para ensiná-la a dirigir, sem cobrar nada. Dirigimo-nos
a casa onde ela reside e ele se oferece para ensiná-la. Vejo-a aceitar a
proposta. Ele solicita dela autorização, por escrito, para retirar o carro de
onde está guardado, num posto de gasolina, logo na manhã seguinte. Autorizado,
em vez de aguardar o dia seguinte, ele nos convida: a mim e ao Arnor, para
irmos, os três, ao posto de gasolina, onde, com a autorização, retira o carro,
à noite e nos diz que é a oportunidade de darmos uma volta. Então, dirige o
fusca e vamos à fazenda Swift, zona rural, pouco distante do centro urbano,
onde há uma festa junina, com tudo o que é característico do evento: fogueira, quentão,
etc. Passado um tempo, por volta de uma ou duas horas da madrugada, estamos no
caminho de volta para casa. A estrada é de chão batido, com alguns trechos
arenosos e têm curvas. Vemos, à frente, uma das curvas à direita; o Áureo não conseguiu
vencer a curva com segurança, talvez porque desenvolveu velocidade maior do que
deveria e o carro foi de encontro ao barranco; tombou de um lado e depois, num
solavanco, ficou sobre as rodas novamente. O para-lama dianteiro entortado
travou a roda. Fazemos força e desentortamos. O carro consegue rodar, mas a
roda está desalinhada e não funciona direito. Chegamos à cidade e fomos direto
à casa da professora Neusa, contar o que aconteceu, pois, mesmo sabendo que
fizemos algo errado, achamos que não é correto ocultar dela o fato. Batemos à
porta e ela sonolenta, atende. O Áureo conta o ocorrido. Ela caminha até a
calçada e chora sobre o carro. Na verdade ela se descontrola e dá um escândalo.
Afinal, é um fusca novinho com várias prestações a serem pagas. Depois de um
tempo ela se acalma e vamos, cada um, para nossas casas, esperar o dia
amanhecer para ver como a situação será resolvida. O Áureo encontra a solução.
Seu tio tem uma oficina mecânica de automóveis e ele fica encarregado do
conserto. A mim coube contribuir com uma parcela em dinheiro para ajudar no
conserto. Foi uma aventura e tanto; para não cair no esquecimento.
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