O cartório
Ele e ela num quadriciclo esquisito,
movido a pedais, artesanal. Ele 56. Ela 53. Ex-casados, prafrentex, mantêm a
amizade com distanciamento. Ajudam-se, quando acham necessário. Ele mais ajuda;
ela mais se aproveita dele. Lá vão pela rua de asfalto, quase deserta. Ele
atrás, ela na frente. Eles pedalam, ela dirige.
Param frente a uma residência, com
uma placa: Cartório.
Ela apeia e se encaminha à frente da
construção, chamando alguém para que a atenda.
Ele dobra o quadriciclo de um jeito,
que fica parecendo uma armação delgada de canos e rodas, apoia numa parede
próxima do cartório e fica à espera do desfecho de estar ali.
Enquanto espera: ele ouve a conversa da
ex com quem a atendeu, mas não presta atenção, pois não tem interesse; vê uma
menina vestida de Chapeuzinho Vermelho sair do cartório, atravessar a rua e
entrar numa casa em frente.
A conversa é demorada. Ele ouve
alguém convidar a ex para tomar um chá. Ele fora. O papo lá, animado, ele cá:
alheio... Invisível... Entediado...
Antonio
Roberto Malfatti
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