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sexta-feira, 18 de abril de 2014

O cartório

Ele e ela num quadriciclo esquisito, movido a pedais, artesanal. Ele 56. Ela 53. Ex-casados, prafrentex, mantêm a amizade com distanciamento. Ajudam-se, quando acham necessário. Ele mais ajuda; ela mais se aproveita dele. Lá vão pela rua de asfalto, quase deserta. Ele atrás, ela na frente. Eles pedalam, ela dirige.

Param frente a uma residência, com uma placa: Cartório.

Ela apeia e se encaminha à frente da construção, chamando alguém para que a atenda.

Ele dobra o quadriciclo de um jeito, que fica parecendo uma armação delgada de canos e rodas, apoia numa parede próxima do cartório e fica à espera do desfecho de estar ali.

Enquanto espera: ele ouve a conversa da ex com quem a atendeu, mas não presta atenção, pois não tem interesse; vê uma menina vestida de Chapeuzinho Vermelho sair do cartório, atravessar a rua e entrar numa casa em frente.

A conversa é demorada. Ele ouve alguém convidar a ex para tomar um chá. Ele fora. O papo lá, animado, ele cá: alheio... Invisível... Entediado...

                                                                               Antonio Roberto Malfatti

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