Como o ser humano é “inocente”!
Sendo
humano, em muitas ocasiões já me comportei como “inocente”.
Assistindo
ao telejornal vi que, em algum lugar do planeta, pessoas se reuniram, estando
com máscaras no rosto e portando imitações de sabres de luz, comemoravam o
lançamento da mais nova versão do filme Star Wars – O despertar da força. Isso,
um dia após eu ter ido assistir ao filme, não por um desejo próprio, mas para
acompanhar, a esposa que se declara fissurada na série e ao neto dela, que ela
achou por bem dar a ele a chance de ver o filme no segundo dia após a estreia mundial,
feita com estrépito. Vi o filme e, sinceramente, não acrescentou nada em minha “inocente”
personalidade.
Dia
seguinte de madrugada, anúncio de que ia passar na tevê o filme: Hitchcock. Meu
interesse em assisti-lo foi logo despertado, pois apesar de estreado há certo
tempo, não o tinha visto ainda. Fiquei muito bem impressionado com a
personalidade do Diretor. E, consegui desfazer uma falsa imagem que me foi
passada dele, de que era mulherengo e se aproveitava das atrizes para conceder-lhes
o papel. Assunto este, explorado no programa Fantástico – da TV Globo -, que
pode muito bem ter sido tendencioso. Difícil saber.
Hitchcock
(o filme) tratou especificamente da história de como ele fez seu filme mais famoso:
Psicose. Um fragmento da biografia de Hitchcock, abrangendo apenas o momento do
desejo de fazer mais um filme em sua carreira; conseguir mais dinheiro para
continuar pagando suas contas pessoais; e convencer a empresa de cinema em acreditar
no sucesso, comprometendo-se esta que o filme seria mostrado ao público. Árdua
batalha vencida passo a passo pelo gênio da comunicação. Chamou-me bastante a
atenção, a parte da fiscalização dos bons costumes, exercida pelo órgão
governamental quanto ao filme. Esta não estava permitindo mostrar a cena do
esfaqueamento no box do banheiro, feita com maestria pelo Diretor. Inclusive, chamou-me
a atenção a cena, porque ele fez questão de dizer que não haveria um fundo
musical na cena, apenas ruídos apropriados à ela. Aí entrou a habilidade do
Diretor. Pediu uma conversa em particular com o fiscal dos bons costumes e
disse a ele que as cenas de amor, iniciais do filme, seriam feitas exatamente como
o fiscal houvera determinado, inclusive dando a ele a chance de ajudar da
dirigir tais cenas. Sapecou uns elogios à atividade do fiscal, elevando o seu
moral, e tudo o mais do filme ficou mil maravilhas.
Como
o ser humano é inocente!
(Malfatti, Antonio
Roberto)