Para facilitar sua leitura, não precisa buscar a revista ou o link. Reproduzo o texto abaixo, com o qual concordo plenamente.
ESCRITA DINÂMICA
O que se escreve com facilidade costuma ser lido com dificuldade, e vice-versa. Alguns autores já disseram isso com palavras variadas, mas não custa repetir.
A ideia acima traz na barriga, embutida lógica e inapelavelmente, esta outra: todo texto contém certa dose, que é variável mas nunca ausente, de dificuldade, trampo, pedreira. Quem vai encarar?
Se o trabalho de quebrar pedras não for feito pelo sujeito que escreve, sobrará para o que lê. E caso este também não esteja disposto a se desincumbir da tarefa – mas quem poderia culpá-lo? –, babau: mais um texto para a montanha de lixo textual em que chafurdamos.
Escrever exige paciência. Sim, há ocasiões – mágicas, deliciosas – em que o texto jorra na página-tela pronto e redondo, irretocável e cheiroso, parecendo desmentir tudo o que foi dito até aqui.
É só uma impressão de facilidade. Nem toda criação se dá de forma consciente e deliberada, durante a vigília. Ninguém sabe muito bem, nem o autor, as horas, meses, séculos de labuta subterrânea que um dia vão dar nessas erupções vulcânicas.
Escrever exige paciência, ou a paciência do leitor será posta à prova. E se é verdade que a cultura digital nos torna cada dia mais ansiosos, menos tolerantes, menos atentos, mais volúveis, não duvido que seja a velocidade da escrita, mais que a da leitura, o grande vilão da inteligência coletiva que nos espreita nas brumas do futuro imediato.
A leitura dinâmica foi uma invenção do século XX que levou aquele personagem de Woody Allen, tendo atravessado “Guerra e paz” em vinte minutos, a resumir assim o tijolão de Tolstoi: “É sobre uns russos”.
Resistimos bem até aí, fazendo, como se vê, piada de nossa própria tolice. Resistiremos à escrita dinâmica, essa invenção do século XXI?