Capacidade de Interação Social
Quando eu era criança sempre ouvia, junto com meu pai, o que era transmitido pelo rádio.
Ele também tinha uma radiola e ouvia discos de música clássica e alguma música popular brasileira. Eu ficava imaginando como eles conseguiam colocar a música nos discos de 78 rotações.
Quando foi anunciada a morte de John Kennedy eu brincava descalço em frente à minha casa e meu pai ouvia o rádio em um tom alto e eu pude ouvir a notícia. Penso que foi a primeira vez que fiquei chocado com uma notícia em minha vida.
Sou um Geminiano e consigo prestar atenção em duas coisas ao mesmo tempo, desde que haja uma certo equilíbrio entre as duas, me explico: se duas pessoas ou uma pessoa e uma tevê estiverem falando num mesmo tom eu consigo ouvir as duas e prestar uma relativa atenção às duas e absorver o conteúdo de ambas. Porém se uma delas estiver num tom bem mais alto eu tento prestar atenção, inconscientemente, nas duas e fico confuso, pois afinal não consigo prestar atenção nem numa nem noutra, ou seja sou obrigado a tentar me desligar de uma para entender a outra. Isto que estou relatando acontece com frequência no meu relacionamento com minha esposa, pois às vezes está rolando na tevê um programa que é totalmente do meu interesse e nem um pouquinho do dela. Ela começa a falar, mas o tom de voz dela é alto por natureza e não existe um botão de volume que possibilite baixar. Aí começa meu drama: tenho que desligar a tevê para não fazer desfeita a ela.
Eu sou o tipo de pessoa que atualmente não tolera mais ouvir rádio. Foi-se a era do rádio. Agora só ouço música no aparelho de som, que mesmo tendo a função rádio, nunca é usada. Já a tevê, acho que 80% do tempo em que estou em casa e acordado faço questão de assistir. Fico passando de um canal para outro em busca do que realmente valha a pena. Ressalto que sou aposentado. Até quando estou no computador, 80% do tempo é concomitante com a tevê.
Parece que pessoas que gostam de escutar são poucas. Pois quando minha esposa está vendo a novela, de interesse dela, ela não quer escutar nem uma mosca voando e eu tenho que esperar o comercial para ver se consigo falar com ela. Já notei também que algumas pessoas gostam muito de falar e não prestam atenção ao que lhes é dito. Algumas pessoas acham que só o que elas falam é importante. Então falam, falam e depois saem. Outras, falamos com elas e elas fingem que nem escutaram, só para não ter que fazer o esforço de responder.
Antonio Roberto Malfatti